Que mãe ainda não ouviu falar sobre refluxo? Quando a palavra surge em uma conversa, logo vêm à mente o problema do gastroesofágico, no qual o bebê ou a criança apresentam como principal sintoma a regurgitação. Mas um outro tipo de refluxo, bastante comum, mas ainda pouco diagnosticado, também exige a atenção de pais e mães: é o refluxo vésico-ureteral, que também pode ser chamado de refluxo do xixi.
Todos possuímos uma espécie de válvula anatômica que faz com que a urina que vem dos rins, siga pelos ureteres e desemboque na bexiga. Mas, quando esta válvula não funciona direito, o xixi acaba voltando pelo caminho de onde veio, e acaba se depositando nos ureteres e também nos rins, causando o refluxo. Com isso, e com o tempo, as bactérias presentes na urina podem causar o que os médicos chamam de infecções urinárias de repetição. Além da gravidade de cada infecção urinária, está o fato de que, até os 5 anos, essas infecções podem causar cicatrizes nos rins, comprometendo o funcionamento e a anatomia deste órgão de forma irreversível. Por isso, se seu filho tem infecções urinárias com frequência, é importante procurar por um especialista, o nefropediatra (que é o nefrologista infantil), para investigar os motivos.
Muitas vezes, as mães sequer desconfiam da existência do problema, e acabam
achando que as seguidas infecções urinárias podem ser fruto de algum descuido,
ou do fato da criança ainda não conseguir se limpar corretamente, por exemplo.
“Normalmente os diagnósticos de refluxo aparecem em crianças pequenas,
principalmente em meninas, por conta da anatomia feminina, já que nelas a uretra
é mais curta e mais difícil de limpar”, afirma Claudia Leonardi, psicóloga do
Ambulatório de Distúrbios Miccionais da Unifesp. As meninas têm duas vezes mais
chances de ter o problema do que os meninos.
Possíveis causas
O refluxo vésico-ureteral geralmente é um problema congênito (fruto de uma
má-formação), mas pode também ter origem genética e até mesmo ser motivado por
um desfralde precoce. Além disso, o refluxo pode acontecer em apenas um ou nos
dois rins. E o problema pode ter cinco graus: do 1 (refluxo só no ureter)
até o 5 (refluxo até o rim, causando intensa dilatação renal e tortuosidade dos
ureteres).
O refluxo é detectado por um exame chamado uretrocistografia miccional, que é
uma espécie de raio-X com contraste. “Muitas vezes a infecção urinária deixa de
ser diagnosticada ou é tratada como uma virose. Além disso, existe uma certa
resistência ao diagnóstico deste tipo de refluxo por conta da realização da
uretrocistografia, que pode ser um exame desconfortável”, afirma Ana Paula
Brecheret, nefropediatra dos Hospitais Sabará e São Paulo.
Como é o tratamento
Os tratamentos vão desde uma reeducação dos hábitos, ensinando a criança a fazer
uma "forcinha' ao final de cada xixi, uma espécie de "fisioterapia" para
aumentar a força da musculatura, até o uso de antibióticos, em doses reduzidas,
por alguns meses ou anos, a fim de evitar as infecções. “O tratamento do refluxo
deve ser individualizado, e leva-se em consideração o sexo, a idade, o grau de
refluxo, a forma de manifestação, o comprometimento renal no início do
tratamento e a disponibilidade dos pais em realizar um acompanhamento de longo
prazo”, afirma Ana Paula. E, em casos extremos, em que os remédios não conseguem
combater as infecções, e em crianças maiores de 5 anos, pode ser indicada a
cirurgia.
Segundo a psicóloga Claudia, é fundamental envolver a criança no tratamento.
“Mesmo as menores têm boa capacidade em compreender o que está acontecendo e a
participação delas em todo o processo é essencial. Utilizando termos simples e
uma linguagem que elas entendam, tudo fica mais fácil”, explica. O especialista pode também utilizar técnicas de reforço, utilizando tabelas com adesivos, com carinhas alegres quando a criança consegue realizar o que foi solicitado”, diz a psicóloga.
FONTE: Revista Crescer
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